sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

UM PÉ NA FESTA E UM PÉ NA ESTRADA

O clima de Natal e Ano novo nos invade, reavivando a ânsia de saciar a necessidade de pão, de superação, de beleza e de poder. Essa inquietação que nasce da carência das mínimas condições de existência, da busca esperançosa de reconhecimento, da vontade represada de festejar, da curiosidade inerente à nossa incompletude... e de muitos sonhos, nos tornam mais fragilizados e sensíveis. Esse tempo e uma conjunção de fatores é uma das oportunidades de ouro aguardadas e, até estimuladas, por aparatos midiáticos, religiosos e mercadológicos. 

Então, não é se estranhar que seja também um momento oportuno para missionários, mercenários e mercadores, de todos os credos e latitudes, para veicular suas mensagens, bem intencionadas ou inconfessáveis, e conseguir atrair prosélitos, militantes e clientes. A rigor, "nada haveria de nocivo se, cada vez que sonha, o ser humano acreditasse em seu sonho, se observasse a vida, se comparasse suas observações com seus castelos no ar e se trabalhasse para a realização de seu sonhos - se existir contato entre sonho e vida... tudo bem”.

Aliás, as tarefas permanentes da vida só se realizam quando se agarram nas "ondas" das várias conjunturas históricas. Embora se deseje que a racionalidade da vontade oriente as ações, sua realização só acontece quando, pessoas e grupos, "surfam" na "outra racionalidade" que vem da situação, da emoção, do subjetivo, do imaginário. Alguém que se pretenda consciente, daria sinais de incompetência se combatesse ou ignorasse o tempo do real, ao imaginar um cenário de pureza de propósitos. A vida só se dá na tensão e na contradição do concreto.

Sabemos que a primeira condição da cura é admitir o fato da doença. Cercado de todas as "enfermidades", o senso popular prefere viver e ser feliz, agora, mesmo sabendo que pode ficar devendo ou iludir-se. Já a grandeza da "consciência" é em saber transmitir conhecimentos acumulados e ajudar a extrair "saídas" duradouras para as inquietações dos oprimidos. Assim, quem sonha com uma nova ordem social não pode esquecer que "ficar longe do povo é uma forma de ficar contra ele"; que "partir da porta que o povo oferece" é a condição para ajudá-lo a chegar onde ele precisa.

Cantemos e exultemos! HOJE é o dia que fez o Senhor de todas as convicções. Somos peregrinos da Pátria onde o choro será apenas de alegria; nos alimentamos da justeza do resgate da vida fraterna, sempre. Longe de sair do "paganismo" do mercado, em todos os espaços, a ordem é mergulhar, de cabeça, no mundo que nos rodeia, mas sem deixar de reafirmar nossa "fé na vida, fé no povo, fé no que virá... pois, nós podemos tudo, nós podemos mais, vamos lá fazer o que será!" Boas festas e viva esse meio que é fim e que é começo!
Ranulfo Peloso