terça-feira, 20 de novembro de 2012

101 anos do nascimento de seu Felix

Oi, pessoal!
sei que tá todo mundo lembrado deste dia.
por isso, saudemo-nos no 101 aniversário do "mano Félix".
abração,

Ranulfo

sexta-feira, 24 de agosto de 2012


Encontro de sócios do Centro Cultiral Milton e Eunice Peloso realizado por ocasião dos 92 anos da matriarca.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Milton Peloso da Silva – 1911 a 2011 Fala em Novembro de 2011, na festa dos “100 anos mais” - depoimento de Ranulfo (agora escrito)

Recordar alguém não é contar tudo sobre essa pessoa. Recordar é passar de novo pelo coração, tornar presente a memória de alguém, através de fatos e momentos, com a intenção de animar a nós mesmos e a outras gerações. A memória paira para além do tempo histórico convencional - se eterniza pelo peso do seu significado. Não se confunde com elogio barato, saudosismo ou melosa curtição.

Começo com duas observações gerais. A primeira, é que meu pai representa uma superação. Como negro, pobre, analfabeta, boêmio e assalariado “tinha tudo pra dar errado”. Mas, sua busca pelo justeza, a contribuição de pessoas influentes na sua vida, e seu esforço pessoal mudaram o fim de um começo que poderia dar em desvio ou torná-lo em apenas mais um. A segunda, é relembrar que quando destacamos pontos positivos de alguém, não negamos seus prováveis equívocos; aliás, quase sempre, na ponta de nossas virtudes se situam também nossos defeitos.
De forma breve, como convém ao ato, e desafiando outros para novos registros, destaco algumas marcas que guardei da figura de “Seu Félix”, sobretudo, dos meus primeiros 13 anos (1945 – 1958). Sei que, apesar do esforço, muita coisa pode ser releitura do vivido. Mas, guardo de meu pai a imagem de:
Um negro pândego, festeiro (baile, “festa do divino”, carnaval), “bossista” (vestia linho branco, sapato engraxado), cheio de pavulagem (exigente), enxerido, seresteiro, cheio do ritmo, canção e dança (tocador de violão) e amante da poesia (“meus oito anos”)... nascido em novembro.
Um trabalhador convicto de que toda pessoa deve viver do próprio trabalho e que, mesmo o achado, continua uma apropriação indébita, pois, honestidade é nunca ficar com o alheio. Exigia saber a origem de tudo que chegava em casa, achado, comprado, ganhado...
Assimilou o profissionalismo de fazer com capricho, mesmo que demorasse. De fazer, não de falar. Exigente consigo, e intransigente na cobrança do combinado. Metódico, seu tempo verbal era o mais-que-perfeito, beirando o perfeccionismo. “Chegar na onça”, então, para ele era o fim.
Uma pessoa que reagia a toda forma de mentira, da opinião sem base real (“eu acho”). Gostava do sim e do não claros. Adorava ter opinião própria, de não “andar pela cabeça dos outros feito piolho”, discordava de escritores, ainda que fossem grandes teólogos.
Ensinava a necessidade de se tomar a iniciativa, sem precisar a “vara de ferrão”, nem pedir licença para fazer coisas oportunas. Para saudar o novo bispo D. Tiago, preparou um discurso pela cruzada da Vila Bode e, me mandou fazê-lo, escrito em enorme folha de papel.
Na sua pedagogia, raramente surrava. Dizia que “bater faz a pessoa ficar sem-vergonha”. Preferia a conversa macia, cheia de moral e conselhos, mais eficaz que o cinturão. Um seu olhar de “esguelha”, valia mais do que mil palavras. E a gente mudava rápido de atitude.
Mas, conversar não era só ralhar. Uma vez, me falou que, na vida, três coisas não estavam em discussão: ler a Bíblia (mesmo contra a orientação dos padres); estudar (a menor nota admitida era 90); e gostar dos pobres. Dizia que religião era coisa boa, mas não era indispensável.
Não vivi sua fase amarga e inútil quando tentou usar o autoritarismo para canalizar a sadia rebeldia dos filhos e garantir a obediência formal. Guardo, então, uma imagem de alguém “mão-aberta”, contador de piadas, generoso na merenda de seus acompanhantes.
Em geral, destacamos o artista engenhoso e criativo. Por isso, desta vez, prefiro destacar o homem curioso, faminto do saber, leitor incansável, o ensinador de cantigas de roda, o hábil contador de histórias cuja dramaticidade nos fascinava (assombrações, romances, poemas).
Mudar fácil ou empacar são os extremos da mesma fraqueza. Custava-lhe muito romper sua decisão e teimosia. Mas, cedia na opinião e nos deixava ir ao cinema depois de proibir. No final da vida, entendeu que a liberdade dos filhos era a "saída da casca" que ele mesmo provocara e pela qual se doou inteiro.

sábado, 10 de março de 2012

SEU FÉLIX VIVE! - Milton Peloso da Silva – #20/11/1911 +04/03/1975 (Centenário de nascimento)

Nossa educação não nos ajudou a cultivar a memória de nossos antepassados de sangue. Não cuidamos de saber a origem nem a trajetória de nossos pais. Como não despertamos para essa curiosidade, temos dificuldades em reconstituir sua história. Não perguntamos e nem tampouco registramos as informações que nos deram sobre sua origem, porque não estávamos despertos para esse fato. Agora, já não há como perguntar-lhes, diretamente; são poucos os registros documentais e as poucas testemunhas que vivem estão com a memória insegura. Assim, temos que recorrer às vagas lembranças e, com os mosaicos, quem sabe, montar uma imagem e um perfil.

      Comecemos pelo nome. Como seria o nome de nosso Pai, neto de uma escrava?  Milton ou Miltom? - (v. Certidão de Batismo de Ranulfo) Peloso ou Pelozo? – (v. sua Certidão de Reservista)  ou Peluso? – (v. Certidão de Batismo) da Silva. Papai, foi batizado na Vila Curuai, Lago Grande da Franca, em 12/09/1912 com o nome de Milton Peluso da Silva. Porque recebeu o sobrenome de Peloso (tirado de seu padrinho Rafael) se seu pai se chamava Bernardino Francisco da Silva e sua mãe se chamava Deolinda (ou Deolindina? – v. Certidão de Casamento) Maria de Nazaré? É provável que haja desatenções ortográficas nos registros, mas também dúvida sobre seu pai, já que seu batistério o chama de  filho “ilegítimo” (v. Certidão de Batismo) quer dizer, fora do casamento religioso. Se fosse pelo costume africano onde a mãe dava seu sobrenome aos filhos – vovó Deolinda era negra filha de uma escrava – poderia ter  herdado “Nazaré” da mãe, como aliás, aconteceu com outros filhos e filhas.

      Há outros Pelosos no Brasil, mas não pertencemos à sua árvore genealógica. Tudo indica que  se originam de diversos ramos de famílias italianas. O Rafael que deu o sobrenome a papai teve duas filhas. O atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Peluso, é filho de uma dessas filhas. Uma vez elas estiveram em nossa casa, averiguando se o Peloso da nossa família tinha laços de sangue com sua família. Elas queriam conversar sobre herança, repartição de patrimônio... Foram informadas que a referência familiar era apenas acidental. 

      De onde vem o nome Félix com o qual foi conhecido toda a vida? Seria apelido, agrado, como sucede a tanta gente, ou teria algum significado especial? Tia Luiza conta que, um dia, lá no Piraquara, sua mãe reuniu a filharada e apresentou o Félix; a partir daí, todos passaram a tratá-lo como “mano Félix”. Lembro-me de um fato curioso, dado sua conhecida postura “certinha”, acontecido, em 1963. Papai espertamente, mandou dar fim a um monte de carnês de cobrança endereçados à R. São Sebastião, 1233, em nome de Félix Peloso pois, seu nome não era Félix, justificava ele. No dia em ele faleceu, para avisar amigos e parentes, a nota na Rádio Rural dizia: noticiamos a morte de Milton Peloso da Silva que, em vida, se chamava Félix Peloso...

Desafio – recontar o que em outras ocasiões já relembramos, e falar de outros tópicos de sua vida como, por exemplo:
·   o lugar de nascimento - Lago Grande, era pescador, trabalhava em tiração de madeira
·  dizer que veio para trabalhar na usina de Força e Luz, depois transformado em Mercado Municipal e recentemente restaurado, em Santarém,  mas foi pra Belterra
·   comentar sobre seu Perfil – trabalhador, exigente, perseverante e até teimoso, paciente, apaixonado, reconhecida  liderança, solene (cheio de rituais – paletó de linho branco, chapéu de massa), honesto, mão aberta, de amizades duradouras, exímio seringueiro, barbeiro, carpinteiro, armador de casas, sabia trabalhar com barro, tecer com palha e talas - abanos, peneiras, tipitis - amante da leitura (lia o domingo inteiro) e das longas conversas, boêmio, tocador de violão... era curioso, gostava  de esculpir, desenhar, escrever, declamar poesia e romances (literatura de cordel), cantar cânticos religiosos e canções românticas,
·   Lembrar que “se metia” em política e era baratista militante (Barata interventor populista, colocado por Getúlio Vargas e que foi influente governador do Pará), o que o confrontava com vários de seus amigos que eram da Coligação, dirigida pela UDN. No período eleitoral, fazia campanha aberta pelos candidatos baratistas que se organizavam no Partido Social Democrático.
·     que às vezes se emburrava... confundia autoridade com autoritarismo... batia pouco, mas seus ralhos e suas doídas lições de moral atingiam pro dentro... guardava rancores e sofria com suas mágoas
·     veio o tempo da Aposentadoria em setembro de 73... mas poucos meses depois... (Ranulfo Peloso)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Projeto "por mais 100 Anos" está indo no ritmo certo

Depois que Maria (Erlina) divulgou, no final do ano, a sua tabela demonstrativa sobre a quantas anda as contribuições dos "pelosos" para formar o fundo "por mais 100 anos" que será o financiador do futuro Centro Cultural Milton e Eunice Peloso; novos contribuintes já se apresentaram e as doações chegam perto dos 15.000,00 (quinze mil reais).

Ontem, a coordenação financeira reuniu e avançou nos seus debates internos sobre o Plano de Negócios do "negócio familiar lucrativo" que é a forma de fazer o dinheiro do fundo se multiplicar. A idéia é aquela já inicialmente conversada: organizar uma "Casa de Sucos" onde os clientes encontrariam também, tacacá, vatapá, garapa, broas, cocadas, bombons de cupuaçu, maniçoba, e outras guloseimas, além de muito carinho, bons preços, boa música e um bom acolhimento. Milton deu uma ajuda nos debates financeiros e estamos agora à procura de um local adequado para o negócio. Também decidimos fazer um "churrasco de divulgação" do nosso pequeno movimento em prol do Centro Cultural, no dia 11 de março. Pedro doou uma porca de 40 quilos para ser churrascada.

Do ponto de vista das adesões, Milton e Miguel assinaram esses dias a Carta de Princípios, completando 10 o número dos filhos já decididos a fazer a sua Cessão de Direitos sobre a Casa da São Sebastião. Aliás, a carta de princípios emoldurada e que será entregue à guarda do Miguel, por dois anos, como ficou acertado no encontro de novembro, deve estar pronta ainda este mês de janeiro.

Pedro Peloso

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

UM PÉ NA FESTA E UM PÉ NA ESTRADA

O clima de Natal e Ano novo nos invade, reavivando a ânsia de saciar a necessidade de pão, de superação, de beleza e de poder. Essa inquietação que nasce da carência das mínimas condições de existência, da busca esperançosa de reconhecimento, da vontade represada de festejar, da curiosidade inerente à nossa incompletude... e de muitos sonhos, nos tornam mais fragilizados e sensíveis. Esse tempo e uma conjunção de fatores é uma das oportunidades de ouro aguardadas e, até estimuladas, por aparatos midiáticos, religiosos e mercadológicos. 

Então, não é se estranhar que seja também um momento oportuno para missionários, mercenários e mercadores, de todos os credos e latitudes, para veicular suas mensagens, bem intencionadas ou inconfessáveis, e conseguir atrair prosélitos, militantes e clientes. A rigor, "nada haveria de nocivo se, cada vez que sonha, o ser humano acreditasse em seu sonho, se observasse a vida, se comparasse suas observações com seus castelos no ar e se trabalhasse para a realização de seu sonhos - se existir contato entre sonho e vida... tudo bem”.

Aliás, as tarefas permanentes da vida só se realizam quando se agarram nas "ondas" das várias conjunturas históricas. Embora se deseje que a racionalidade da vontade oriente as ações, sua realização só acontece quando, pessoas e grupos, "surfam" na "outra racionalidade" que vem da situação, da emoção, do subjetivo, do imaginário. Alguém que se pretenda consciente, daria sinais de incompetência se combatesse ou ignorasse o tempo do real, ao imaginar um cenário de pureza de propósitos. A vida só se dá na tensão e na contradição do concreto.

Sabemos que a primeira condição da cura é admitir o fato da doença. Cercado de todas as "enfermidades", o senso popular prefere viver e ser feliz, agora, mesmo sabendo que pode ficar devendo ou iludir-se. Já a grandeza da "consciência" é em saber transmitir conhecimentos acumulados e ajudar a extrair "saídas" duradouras para as inquietações dos oprimidos. Assim, quem sonha com uma nova ordem social não pode esquecer que "ficar longe do povo é uma forma de ficar contra ele"; que "partir da porta que o povo oferece" é a condição para ajudá-lo a chegar onde ele precisa.

Cantemos e exultemos! HOJE é o dia que fez o Senhor de todas as convicções. Somos peregrinos da Pátria onde o choro será apenas de alegria; nos alimentamos da justeza do resgate da vida fraterna, sempre. Longe de sair do "paganismo" do mercado, em todos os espaços, a ordem é mergulhar, de cabeça, no mundo que nos rodeia, mas sem deixar de reafirmar nossa "fé na vida, fé no povo, fé no que virá... pois, nós podemos tudo, nós podemos mais, vamos lá fazer o que será!" Boas festas e viva esse meio que é fim e que é começo!
Ranulfo Peloso