sábado, 10 de março de 2012

SEU FÉLIX VIVE! - Milton Peloso da Silva – #20/11/1911 +04/03/1975 (Centenário de nascimento)

Nossa educação não nos ajudou a cultivar a memória de nossos antepassados de sangue. Não cuidamos de saber a origem nem a trajetória de nossos pais. Como não despertamos para essa curiosidade, temos dificuldades em reconstituir sua história. Não perguntamos e nem tampouco registramos as informações que nos deram sobre sua origem, porque não estávamos despertos para esse fato. Agora, já não há como perguntar-lhes, diretamente; são poucos os registros documentais e as poucas testemunhas que vivem estão com a memória insegura. Assim, temos que recorrer às vagas lembranças e, com os mosaicos, quem sabe, montar uma imagem e um perfil.

      Comecemos pelo nome. Como seria o nome de nosso Pai, neto de uma escrava?  Milton ou Miltom? - (v. Certidão de Batismo de Ranulfo) Peloso ou Pelozo? – (v. sua Certidão de Reservista)  ou Peluso? – (v. Certidão de Batismo) da Silva. Papai, foi batizado na Vila Curuai, Lago Grande da Franca, em 12/09/1912 com o nome de Milton Peluso da Silva. Porque recebeu o sobrenome de Peloso (tirado de seu padrinho Rafael) se seu pai se chamava Bernardino Francisco da Silva e sua mãe se chamava Deolinda (ou Deolindina? – v. Certidão de Casamento) Maria de Nazaré? É provável que haja desatenções ortográficas nos registros, mas também dúvida sobre seu pai, já que seu batistério o chama de  filho “ilegítimo” (v. Certidão de Batismo) quer dizer, fora do casamento religioso. Se fosse pelo costume africano onde a mãe dava seu sobrenome aos filhos – vovó Deolinda era negra filha de uma escrava – poderia ter  herdado “Nazaré” da mãe, como aliás, aconteceu com outros filhos e filhas.

      Há outros Pelosos no Brasil, mas não pertencemos à sua árvore genealógica. Tudo indica que  se originam de diversos ramos de famílias italianas. O Rafael que deu o sobrenome a papai teve duas filhas. O atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Peluso, é filho de uma dessas filhas. Uma vez elas estiveram em nossa casa, averiguando se o Peloso da nossa família tinha laços de sangue com sua família. Elas queriam conversar sobre herança, repartição de patrimônio... Foram informadas que a referência familiar era apenas acidental. 

      De onde vem o nome Félix com o qual foi conhecido toda a vida? Seria apelido, agrado, como sucede a tanta gente, ou teria algum significado especial? Tia Luiza conta que, um dia, lá no Piraquara, sua mãe reuniu a filharada e apresentou o Félix; a partir daí, todos passaram a tratá-lo como “mano Félix”. Lembro-me de um fato curioso, dado sua conhecida postura “certinha”, acontecido, em 1963. Papai espertamente, mandou dar fim a um monte de carnês de cobrança endereçados à R. São Sebastião, 1233, em nome de Félix Peloso pois, seu nome não era Félix, justificava ele. No dia em ele faleceu, para avisar amigos e parentes, a nota na Rádio Rural dizia: noticiamos a morte de Milton Peloso da Silva que, em vida, se chamava Félix Peloso...

Desafio – recontar o que em outras ocasiões já relembramos, e falar de outros tópicos de sua vida como, por exemplo:
·   o lugar de nascimento - Lago Grande, era pescador, trabalhava em tiração de madeira
·  dizer que veio para trabalhar na usina de Força e Luz, depois transformado em Mercado Municipal e recentemente restaurado, em Santarém,  mas foi pra Belterra
·   comentar sobre seu Perfil – trabalhador, exigente, perseverante e até teimoso, paciente, apaixonado, reconhecida  liderança, solene (cheio de rituais – paletó de linho branco, chapéu de massa), honesto, mão aberta, de amizades duradouras, exímio seringueiro, barbeiro, carpinteiro, armador de casas, sabia trabalhar com barro, tecer com palha e talas - abanos, peneiras, tipitis - amante da leitura (lia o domingo inteiro) e das longas conversas, boêmio, tocador de violão... era curioso, gostava  de esculpir, desenhar, escrever, declamar poesia e romances (literatura de cordel), cantar cânticos religiosos e canções românticas,
·   Lembrar que “se metia” em política e era baratista militante (Barata interventor populista, colocado por Getúlio Vargas e que foi influente governador do Pará), o que o confrontava com vários de seus amigos que eram da Coligação, dirigida pela UDN. No período eleitoral, fazia campanha aberta pelos candidatos baratistas que se organizavam no Partido Social Democrático.
·     que às vezes se emburrava... confundia autoridade com autoritarismo... batia pouco, mas seus ralhos e suas doídas lições de moral atingiam pro dentro... guardava rancores e sofria com suas mágoas
·     veio o tempo da Aposentadoria em setembro de 73... mas poucos meses depois... (Ranulfo Peloso)

2 comentários:

  1. Cada vez que leio ou releio algo sobre nosso pai vejo que pouco ou nada sei a respeito de sua experiência aqui em nosso mundo terreno. Apesar disso, fico muito feliz em me idenfificar com seus princípios, seus valores, suas atitudes, seu comportamento, enfim, seu jeito de viver e interagir com seus pares, e quem sabe, com os outros seres terrenos?

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  2. é muito bom saber de nossas raízes...escutar com atenção as narrações das aventuras de cada um nos encontros da família...colocar a imaginação pra desenhar com detalhes as cenas de cada episódio vivenciado...tenho orgulho de fazer parte dessa familia fantástica...

    Um grande abraço a todos

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